Pai, Mãe, sou Gay

quinta-feira, 9 de junho de 2016


Sempre disse, e continuarei a dizer, que o armário é uma coisa muito relativa.
O meu, sempre foi um armário de vidro, com portas trancadas a medo, escondendo o que estava claramente à vista.

Com os anos foi ficando mais difícil tentar abrir as portas, cada vez mais perras e transparentes, desgastado pelo peso dos anos e das pequenas (e grandes) mentiras - brancas, cinzentas ou negras, todo um degradé de escapismo - que sempre imaginei ser a causa de um barulhento estilhaçar.

Com medo de me cortar, continuei lá dentro, escondido à vista de todos.

E depois, aconteceu tudo de forma muito rápida, sem metáforas ou subterfúgios.
Na minha cabeça ecoou
"Não precisas de continuar a mentir"
E não menti.
Encolhi-me e disse o que tinha escondido tantos anos, infrutiferamente.
Esperei pelo pior, todos os cenários negros que correram a minha cabeça ao longo destes anos.

O pai, ligeiramente desiludido, mas nada surpreso, diz de voz velada que família é família e não é por isto que vai deixar de o ser.
A mãe, sorridente, diz que não é parva nenhuma, e que só me quer feliz.

Limpas as lágrimas - as minhas, porque como boa drama queen que sou larguei um garrafão de àgua de luso - respirei fundo e reparei pela primeira vez o quão pequeno era o armário que me aprisionou todos estes anos.

Como coincidência cósmica, saí do armário justamente no mês do orgulho LGBT.
A vida tem destas coisas.

21 comentários:

  1. :-) fico feliz por ti, mas também ficaria feliz que continuasse no tal armário de vidro :-p

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    1. Obrigado? Ficarias feliz se lá continuasse pq? Enlighten me :3

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    2. Miguel, vou tentar dar-te uma luzes mas não aqui :-p

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  2. Boa! Parabéns!
    PS: não sabia que as drama queens choravam água do luso... eheh

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  3. Água do Luso é cara, e muito mineralizada. Faz mal aos rins se bebida em demasia.

    Admiro a tua coragem de contar aos pais. A sério.
    Eu não consigo. Sinto que vai cair o Carmo e a Trindade. Tenho medo. Sou um cobarde, basicamente é isso...

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    1. Por Tutatis! O céu não lhe cairá na cabeça (como diriam os gauleses) pode confiar amigo Horatius!

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    2. Eu sei que é complicado, não é questão de seres cobarde, deves pesar como eu os prós e os contras. O medo da rejeição, especialmente da família é normal. Qualquer dia também hás de ter uma história do género para contar, e eu vou cá estar pra ler ;)

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  4. Então! Na maioria das vezes o problema quanto à nossa orientação sexual está muito mais em nós mesmos do que com os outros. Vivi processo similar até meus 30 anos. Aí decidi e escancarei para família toda, amigos, trabalho. enfim ... todos ... para minha surpresa ninguém recebeu como novidade ... rs ... Importante, mesmo antes de me revelar oficialmente e muito menos depois disto nunca tive problemas com os outros em aceitarem a minha condição ...

    Parabéns ... tirastes um fardo das costas ...

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    1. Citando Rupaul "If you don't love yourself, how are you gonna love somebody else?"
      É verdade, me sinto bastante mais leve :3

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  5. Tudo tem o seu tempo, e as coisas resolvem da melhor forma possivel...
    Pena que alguns convivem com a ignorância na familia, onde deveriam ter apoio, tem o desprezo.

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    1. Vivemos todos como podemos. É muito bom não ter mais esse fardo nas costas, mas compreendo quem precise de se preservar no armário. como disse no texto, o armário é muito relativo.

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  6. Quando finalmente comecei a me entender um pouco, assumi para mim que não precisava exatamente "contar", mas que se algum dia me perguntassem eu diria a verdade... e foi mais ou menos assim que as coisas caminharam.

    São muitas variáveis e muitas coisas para lidar, mas duas coisas eu sempre acreditei, uma delas é a de que na grande maioria das vezes o mais difícil é contar para nós mesmos, não é fácil! E a outra é que o amor sempre supera qualquer coisa, passado o choque inicial, tenho certeza que você e seus pais irão estabelecer novos termos nessa relação e isso sempre será bom para ambos.

    Muita coisa boa para ti... :)

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    1. Tem casos em que o amor demora muito tempo a superar, e temos sempre medo que o nosso seja um desses, pelo menos comigo foi assim :/

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  7. Como alguns outros disseram acima, primeiramente decidi que não iria mentir para mim mesmo se me perguntassem: És gay? E comecei a responder positivamente. Um ano depois aos 16 anos de idade chamei meus pais para conversar sobre...
    Mas sair do armário não acaba por aí. Emponderar-se homo em um mundo hétero, ao menos para mim, requer hoje uma paciência que não estava nos planos malignos e sombrios que imaginava lá dentro do armário.
    Abraços e continue divando.

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  8. Agora já podes ir fazer vídeos para a rua, colocar no youtube, ser hiper mega famoso, e achar que ainda vivemos numa monarquia.

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(sou ótimo a motivar as pessoas hein?)