Agosto
Estou naquela fase.
Gato escaldado com bastante medo da água quente.
Tento não cair no cliché de assumir que os homens, essas grandes bestas, serem todos iguais.
Instalo o grindr, no auge do verão, camisas decotadas e depilações feitas, e espero que caiam propostas.
E elas não tardam, pequenas restaurações temporárias na minha fé pelos homens, e pela minha vida romantico-sexual.
Escolho um dos poucos que não me ilumina o ecrã com convites para um fodão ou derivado, porque estou - aparentemente - numa de boa moça.
Falamos da vida, de gostos, de aspirações, toda aquela conversa digna de mostrar à tia-avó emigrada, com pequenos laivos de química e boas doses de flirt.
Trocámos a foto da praxe, e eventualmente, combinámos um encontro, meio a palpar terreno.
E vou, sorridente pelo mar de turistas, entretido pela música e pela promessa de uma noite interessante.
Sento-me num banco à beira mar e espero.
Espero uns minutos.
Espero uma hora.
Espero duas.
Desisto depois de não obter resposta a nenhuma das mensagens e não ver sinal do rapaz.
Compro um gelado e subo a rua, e vejo pelo canto do olho um casalinho aos beijos num canto menos iluminado da rua.
Dois miúdos novos, Provavelmente turistas, um loiro e baixo, com gargalhadas sôfregas a fingir afastar as investidas de um moreno de óculos.
Reviro os olhos, suspiro e acelero o passo, controlando a ânsia de dar um safanão aos dois miúdos e gritar-lhes que é provavelmente uma paixãozeca idiota de verão, influenciada pelo bronzeador e pelos mojitos, fadada a morrer na mesma altura em que as minhas camisolas de malha voltem a ocupar a prateleira principal do armário.
Deixem-me.
Estou naquela fase...
Ou talvez não.