"Vens ver um filme a minha casa?"- Não consigo deixar de pensar que se todos os convites destes resultassem mesmo num filme assistido, tinha o equivalente a um mestrado em análise cinematográfica moderna.-
E lá fui, num misto de ingenuidade e expectativa que fazia o meu estomago girar mais depressa que uma máquina de lavar no programa de centrifugação - afinal, nunca tinha em nenhuma espécie de encontro, muito menos com um homem.
Acontecia tudo numa espécie de câmara [insistentemente] lenta que tornava as conversas em ecos distantes.
Falámos efetivamente em filmes, lembro-me de ver uma coleção simpática de filmes de terror, e tenho uma muito vaga ideia de me ter feito sugestões enquanto se aproximava, não muito discretamente.
Cheirava bem, a after shave e tabaco, uma combinação estranhamente agradável, lembro-me de ter as palmas das mãos suadas, um mar de dúvidas e autorecriminações a inundar-me a cabeça - afinal estava a forçar aberta a porta do armário que se manteve escrupulosamente fechada anos a fio.
E depois aconteceu.
E pode parecer anticlimático, mas mal as nossas bocas se encontraram e a barba me arranhou a cara não senti nenhum tipo de borboletas ou qualquer outro inseto esvoaçante no sistema digestivo como é da praxe, Não tive nenhuma epifania religiosa;
Nenhum chamado divino;
Senti apenas uma alívio imenso.
As preocupações foram-se todas pela janela á medida que o beijo se prolongava, agora a uma velocidade agora acelerada.
O beijo?
Foi bom, mas o que recordo sempre é aquele alívio imenso.
E vocês, ainda se lembram?