Já há imenso tempo que não falava de nenhuma das minhas
desventuras romanticosexuais, por isso preparem-se para mais um capítulo:
Conhecemo-nos e trocámos contactos.
Disse-me que não era assumido, que era "discreto", e nem me interessou particularmente.
É uma coisa muito pessoal, não é factor condicionante para mim.
Era super reservado, misterioso.
Vocês sabem o tipo, quanto menos vos diz mais vocês querem saber .
Todo este mistério, e o facto de ele estar muito interessado em mim, só me chamava mais a atenção.
Falávamos regularmente, mensagens, telefonemas a altas horas da noite e volta e meia uma videochamada. Todos regados com toda aquela tensão sexual muito típica de engate recente, com jorros de elogios e muitas falinhas mansas (oh, como eu adoro falinhas mansas).
Combinámos um encontro, queria mostrar-me as estrelas e passear comigo de mãos dadas á beira mar.
E sim, eu sei que é a linha de engate foleiro mais velha da história da humanidade, e que ninguém cai nestas coisas, mas eu fico automaticamente encantado com romantismo barato, portanto, lá fomos ver as estrelas.
Conversámos um bocado, e acabámos, com a maresia a bater-nos no cabelo, a lua cheia a iluminar a paisagem e a... Ahm... ver as estrelas... no capô do carro dele.
(E foi ótimo, nem me arrependi particularmente, se quisesse ser celibatário ia pra Padre)
Quando efetivamente ficámos a ver as estrelas abraçados, falámos de várias coisas.
Lembro-me de lhe ter dito meio a brincar, que a primeira coisa que fiz quando o vi, foi reparar se tinha aliança, porque não queria um caso.
Apressou-se a descansar-me, a dizer que não tinha ninguém, e ficou meio envergonhado, e mudou o assunto, mas não liguei.
Findo o "encontro" desapareceu do mapa.
Fiquei ligeiramente desapontado -
Não estava á procura de nada particularmente sério nem me pus imediatamente com fantasias de ter arranjado um namorado instantâneo, mas não deixa de ser chato né - mas não morri com isso. passaram-se uns dias e ele reapareceu das cinzas, todo entusiasmado, cheio de saudades, e com uma conversa da tanga de que não tinha tido tempo nem tinha recebido as minhas mensagens.
Voltámos a combinar outro encontro, desta vez, na zona onde ele morava, porque me disse entusiasmado, que tinha sítio onde ficarmos - e convenhamos que por mais excitante que seja, fazer sexo no carro cansa um bocado - e que podíamos ir passear, que estava com saudades minhas e queria muito estar comigo.
E lá me meti no carro para ir ter com ele, com a minha infalível - e sempre ignorada nestas situações - intuição a apitar que tresandava a má ideia, mas o coração a dizer "
pára de seres desconfiado Miguel, ele até é um gajo porreiro" e o corpo a dizer
"Ahm, aproveita, uma queca é uma queca"
Pus-me no carro e fui rumo á aventura, como aliás gosto de fazer.
Liguei o GPS para encontrar o sítio combinado, e alguma força divina fez o GPS indicar-me o caminho errado por 3 vezes.
Quando o parei para confirmar o local, a bateria morreu completamente e o carro não pegava por nada deste mundo.
Fiquei sozinho à beira da estrada deserta no meio da noite sem conhecer o local onde estava,e acabei por lhe pedir para me vir buscar.
E a partir daqui começou tudo a descambar.
Cumprimentou-me com um passou-bem, e prometeu que depois me ajudava com o carro, deu-me boleia para "o sítio" que era uma arrecadação na casa de não sei quem, porque "tinha gente em casa".
Acabámos por não ir dar o tal passeio porque "tinha que ir para casa".
E por muito crédulo que eu seja, sejamos honestos, por esta altura eu já estava a achar tudo muito mal contado, mas não me podia queixar muito, porque hm, estava sem carro e não me parecia boa estratégia ficar no meio de nenhures depois de pedir satisfações.
Vou ligar ao meu irmão, ele tem uns cabos de bateria, peço lhos emprestados.
E deixou-me dentro do carro, enquanto ligava ao irmão.
Feliz ou infelizmente, a conversa ouvia-se toda mesmo com a porta fechada, e eu, como bom curioso que sou, ouvi.
"Oh, é que eu preciso dos cabos, é a tua mãe que os tem?(...)"
Hmm... talvez sejam meio irmãos, é completamente possível.
"(...)Okay amor, mas vai dormindo que como te tinha dito, hoje tinha aqui coisas para fazer(...)"
... amor? Ehr... se calhar são mesmo muito próximos?
"(...)Okay, quando chegar, se não estiveres acordada, eu acordo-te como tu gostas"
... acordada?
...se calhar é transexual?
... mas ...como tu gostas? Hmm....
Eventualmente deixei de ouvir a conversa porque comecei a fazer conjeturas para justificar aquilo, porque tinha que ser tudo uma coincidência.
É isso, eu percebi tudo mal, pelo amor de Deus,
silly me.
Lá conseguiu os cabos, que estavam com a tal senhora, que lhe ligou de seguida, e mesmo que ele apressadamente desligasse o telemóvel, não deixei de ver no ecrã do telemóvel
SOGRA em letras bem gordas.
Resolvi fingir que não percebi nada.
Afinal, a minha poker face é bastante boa, e honestamente não achei que valesse a pena o drama, se já me tinha mentido até então, não ia subitamente ganhar uma consciência e pedir-me desculpa.
Quando nos despedimos, deu-me novamente um passou-bem, e eclipsou-se mais uma vez do mapa, enquanto eu pensava na ironia, de ter sido a sogra do meu encontro a ajudar o meu carro a arrancar de empurrão quando ele de empurrão comigo umas horinhas antes.
Mandou-me ontem mensagem, a perguntar se queria ir ver as estrelas com ele.
Não sei se convido a namorada ou a sogra, para assistir.