Prison Break - Grindr Style

sábado, 15 de abril de 2017


Dizia-me a minha avó, "quando não tens nada de jeito para dizer, mantém-te calado"

E foi o que fiz, fiquei na minha até me apetecer vir partilhar as minhas aventuras e desventuras por aqui.

Encontrámo-nos como dois bons católicos tementes a Deus na sexta feira santa, no grindr, prontos a celebrar o corpo.
Não o de cristo, só para clarificar.
Ele sarado moreno e importado das américas, Eu do Alentejo, branco que nem uma lula, mas com mais fogo que um braseiro num acampamento cigano, por isso a equação acabou por se balançar organicamente.
Fomos para a pequena pensão onde o rapaz estava alojado e comprovou-se a teoria de que os latinos são efetivamente fogosos.

Depois de muita comemoração pascal, acomodei-me para dormir.
Como sou uma princesa, aparentemente, não consegui pregar olho, afinal estávamos a 50 metros de uma discoteca com uma insonorização tão eficiente como usar se preservativos com o espírito santo, e cada vez que tentava dormir ouvia as meninas do "woooo" ao fundo acompanhadas de relaxantes batucadas techno.

Vesti as calças e desisti de procurar os boxers - que estariam algures num remoinho de lençóis e roupa jogada pelo chão - , despedi-me do rapaz, disse que falaríamos depois e dei a noite por terminada, descendo para o lobby da pensão pronto para recobrar energias na minha silenciosa e acolhedora cama, em casa.

Desço para o lobby pé ante pé, rezando para não encontrar ninguém todo descabelado durante a madrugada, rodo a maçaneta da porta de saída, e ela continua no lugar.
Carrego num botãozinho ao lado da porta, e volto a rodar, e ela volta a não se mexer um milímetro.

A porta está trancada.
A porta do lobby da pensão onde eu não estou alojado está trancada.
A porta do lobby da pensão onde eu não estou alojado e fui dar uma foda está trancada.
A porta do lobby da pensão onde eu não estou alojado e fui dar uma foda está trancada e são quatro da manhã.


E começo a analisar todos os arredores, a tentar descobrir como sair da situação.
Nenhuma espécie de aviso a informar os hóspedes, todas as luzes apagadas, e eu só no lobby às voltas a pensar nas minhas escolhas de vida, até dar de caras com uma janelinha.
Então, pelas quatro da madrugada sem cuecas, suado e descabelado, a agradecer aos santinhos a minha permanência insistente no ginásio, lá vou eu trepando a janela da pensão de dentro para fora, para conseguir sair sem acordar ninguém.

E são quatro da manhã aterro num canteiro, sentindo-me um ginasta olímpico medalhado, olho para cima e reparo que a merda da pensão tem câmaras de vigilância, câmaras essas que provavelmente videografaram a minha triunfal saída para a posteridade - e no pior dos casos para a GNR.


Como é bom ser solteira <3