O "hétero"

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


Não estava a pensar falar sobre isto tão cedo, mas quando dei por ela já tinha vomitado tudo, e ainda fiquei um bom bocado a olhar pro texto e a pensar se publicava ou não, olhem desculpem lá qualquer coisinha.


Conhecemo-nos num fórum - Eu sei, eu sei, forma mais retardada de conhecer alguém, mas adiante. - e falámos durante alguns anos, de forma bastante casual,sem nunca nos termos sequer visto um ao outro ( uma das muitas maravilhas da privacidade de um nickname).
Não passávamos de dois cibernautas tagarelas.

Perto do meu aniversário, alguns meus amigos, resolveram visitar-me, e trouxeram-no de arrasto - o mundo é mesmo um grão de areia - para irmos todos sair à noite.
Achei-lhe piada, caladinho e tímido, meio embaraçado de interagir connosco - que hei-de fazer? segundo a minha melhor amiga , sou uma contradição, um gay que gosta de "conas" - E acabámos por ir dançar os dois, enquanto os restantes amigos voltaram para casa.

Não aconteceu nada de mais, uma noite divertida e bem regada com muitas fotos à mistura.

Voltou-me a falar um dia depois, com o pretexto de me pedir as ditas fotos.
À medida que as recebia, assim muito timidamente, começou a dizer que gostou muito de me conhecer, até comentar que fazíamos um par engraçado.

E combinámos outro encontro.

Sem os amigos.

E os encontros multiplicaram-se. Ia ter muitas vezes à cidade dele, e os cafézinhos alongavam-se por horas, ao ponto de quase perder o comboio por diversas vezes.

Eventualmente, começámos a ir para o apartamento dele, sempre que os colegas de casa não estavam, e lá tentava impressionar-me com jantares caseiros, que sabiam sempre terrivelmente mal - mas que eu não conseguia deixar de elogiar - e de vez em quando passava lá a noite. encostado ao peito dele a ver talk shows até altas horas da madrugada e a falar sobre a vida.

E comecei a gostar dele - mais do que gosto de admitir - ao ponto de começar a pensar no plural.

Comentei com ele, uma noite qualquer, Quando comecei a encarar o "nós" como uma possibilidade, que me fazia impressão nunca ter conhecido nenhum amigo dele, sem ser os que tínhamos em comum.

Meio atrapalhado, admitiu-me que ninguém sabia. que ainda estava no armário, e que a família é muito preconceituosa, e acabou por nunca dizer a ninguém que era gay.

E quem sou eu pra condenar tal coisa?

Deixei-me estar.
Gostava dele, e estávamos juntos de vez em quando, mesmo que em segredo.
Sabia a pouco, mas pouco é melhor que nada.

Com o verão, voltou para casa dos pais, na outra ponta do país, mas - obviamente - mantivemos contacto.

À medida que os dias passavam, as saudades aumentavam. Prometia-me que estaríamos juntos no final do Verão, quando retornasse à faculdade e estivesse mais perto.
E as conversas - que já eram poucas - escasseavam mais e mais, com as desculpas do costume, tinha trabalho, tinha os pais, tinha o cão o gato e o periquito.

E de repente desapareceu.
Evaporou-se.
Disse-me que não "tinha tempo" e esvaiu-se pelo ar por três meses inteiros.

Mesmo com toda essa ausência de tempo, postava praticamente todas as semanas fotos com os amigos da terrinha, nos copos facebook fora sempre muito alegre e divertido.

E eu fiquei cá, algures no armário, ao pé daquelas sapatilhas velhas que nunca se deitam fora, porque mesmo estando rotas, dão bom andar, preso num limbo, sem saber o que se tinha passado.
"Será que disse alguma coisa?" "Fiz demasiada pressão?" "Se calhar ressono".
Porque não me fazia sentido qualquer outra explicação, tinha que ser alguma coisa que eu tivesse feito, não existe otário à face da terra capaz de fazer isto a uma pessoa sem qualquer tipo aviso... não é?

Nesse Outubro - já 4 meses de contacto inexistente - os nossos amigos em comum quiseram marcar uma saída em grupo, e ele, qual aparição , teve a genial ideia de me mandar uma sms a dizer "queres boleia? tb vou".

Assim, a seco.
Como se eu estivesse em modo pausa até ele se lembrar que lhe apetecia brincar às casinhas.
E até hoje tenho vergonha em admitir que mesmo magoado, tive muita vontade de fingir que não se tinha passado nada, e ir com ele naquele bendito ford fiesta velho tomar café, e retomar precisamente onde deixámos o que quer que seja que se passava entre nós.

Hoje, - passado tanto tempo - vi-o na rua, com uma rapariga qualquer.
Talvez uma "namorada", quem sabe.

Gostava de dizer que foi tudo muito bonito e que olhei para ele e lhe dei uma grande lição de moral, e ele me pediu desculpa, e agora está careca e infeliz enquanto eu estou com um namorado fantástico que me compra chocolates e me dá orgasmos, mas isso é na sala 9, na sessão das 22:30.

Talvez eu fosse muito chato.
Talvez o sexo não fosse bom.
Talvez tenha conhecido alguém.
Talvez tenha tido medo.

Acho que nunca vou saber, e também já não sei se quero.

10 comentários:

  1. Ou talvez ele seja estúpido e não te mereça. Aposto mais nesta.

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    1. @Namorado - Eventualmente comecei a pensar assim, mas ainda me faz impressão não saber que se passou concretamente.
      @Kyle - esperemos que sim:P

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    2. Ele teve medo. Daqui a uns tempos arranja outro e faz o mesmo.

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  2. Infelizmente é o que mais se ouve e vê...ainda ontem falava nisso com uma grande amiga... porque é que as pessoas (homens), dizem que gostam, que adoram, conquistam para depois abandonar? Porquê? E depois não dizem os porquês, acho que nem mesmo "eles" sabem, porque saber é o primeiro passo para assumir...e depois o outro é que fica na lama, inseguro, a sentir-se culpado, sem valor suficiente...mas posso garantir-te, mesmo sem te conhecer, o problema não és tu, nem está em ti!

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    1. Eh pah, eu geralmente quando recebo muitos "amo-te"s muito rápido desconfio logo. Não me chateio tanto que deixem de gostar de mim, chateia-me que não tenham coragem de me dizer nada, finjam que não se passou nada. isso é que me magoou. Obrigado :)

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  3. Isso deve ser complicado, mas não me parece que tenha sido algo que tenhas feito. Pelas atitudes dele, acho que não te merecia, por isso move on :)

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  4. eu teria tirado satisfações, não conseguia ficar assim sem respostas. não dava mesmo para mim :/

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  5. Ou talvez ele seja mesmo um conas, e até foi um favor que te fez ter desaparecido para sempre :P

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Vá, a comentar enquanto ainda não cobro nada.
Respondo sempre e coiso.
(sou ótimo a motivar as pessoas hein?)