Grindr - Uma história de amor... ou não

domingo, 13 de abril de 2014



Hoje é o dia internacional do beijo.
Que assunto mais apropriado para discutir neste dia senão o grindr?


Para quem não sabe, grindr é uma rede geosocial, que permite a gays marcarem "encontros", isto muito resumidamente. Já ficam a perceber melhor no que consistem quando lerem o restante do post.

Lembro-me de ter ouvido falar pela primeira vez no grindr em 2010, num espetáculo de stand up da comediante Kathy Griffin.
A dada altura ela comentou (parafraseando livremente):
"E aquilo é fantástico. Eu postei uma foto dum gajo musculado e disse que estava á procura de alguém que me enfiasse uma lâmpada rabo acima, e recebi imensas propostas de homens interessados".
E vou confessar, que pensei que fosse uma coisa exagerada para fins comédicos, afinal, ninguém no seu perfeito juízo iria fazer isso, certo?
Longe estava eu de saber.

Passados uns anos, acabei por ceder à curiosidade, e sacar a aplicação para o meu telemóvel.
Fiz uma conta, muito básica, um nickname, sem foto nem informações, só queria ver como aquilo era, qual era o interesse todo.
E pareceu-me um tédio de morte. liga-se o GPS e vêm-se fotos de homens, organizados por proximidade geográfica dos mais perto, aos mais longe.
Nada de mais.
Não percebi o interesse daquilo, nem nunca cheguei a interagir com ninguém.

Um dia, meses mais tarde, num laivo de aborrecimento resolvi criar um perfil falso.
Uma foto dum rapaz bonito e jeitoso (vide foto aqui, tirada do google), nome fictício, idade a altura,  liguei o GPS e esperei.

E nem 5 minutos se tinham passado, já tinha 20 mensagens à espera na caixa do correio.
E quando as comecei a ler fiquei extremamente traumatizado.

Perguntas pequenas e diretas inundaram-me o ecrã, ás dezenas:
"Ativo ou passivo?"
"Moras aqui perto? Queres vir até cá a casa?" 
"Que queres fazer?"
Tudo acompanhado de 50 mil fotos de pilas e rabos - juro, nunca tinha visto tantas pilas na minha vida, um verdadeiro rodízio virtual.

Ainda assim, resolvi dar o beneficio da dúvida.
Afinal, ainda agora tinha entrado, podia ser só a primeira horde de utilizadores extremamente pervertidos.
Mas não.

Na hora e meia em que tive o perfil aberto, as propostas indecentes choveram sem eu precisar de fazer nada.
Um casal das redondezas que queria um menage a trois, e que me ofereceram transporte e estadia em casa deles.
Um senhor que me mandou as coordenadas GPS do hotel dele, e com infinito charme e eloquência me disse "Tenho preservativos e lubrificante". Como se isso fosse uma proposta irrecusável, e eu devesse pegar no carro e ir a correr para o hotel ter com ele.
E cheguei ao cúmulo de ter um rapaz, que queria Insistentemente - em pleno 2014 - ter sexo desprotegido comigo (ou com a minha personagem vá).
Um perfeito desconhecido que só viu no ecrã do smartphone, numa solarenga tarde de Inverno, que podia perfeitamente ter sífilis, gonorreia, herpes ou sida. mas que era giro.

Findo esse tempo, aborreci-me, eliminei os perfis - o falso e o meu, anónimo - e disse adeus ao grindr, até nunca mais, ainda num misto de confusão e vergonha alheia por ver ao que se sujeitam e como se mostram  muitos gays "com fominha".

Não, não sou daquelas pessoas púdicas que condena sexo casual.
Nem sou besta para pensar que isso não existe e que é muito errado e que devia toda a gente ter vergonha por fazer sexo em vez de "fazer o amor".
Têm pila, usem senão cai, meus filhos.

Mas eu sou um romântico, processem-me.
Gosto de flirtar.
De trocar olhares.
De pagar bebidas - quando não estou teso que nem um carapau - e trocar histórias.

Gosto da conquista, muito resumidamente.

E não vejo aonde está a conquista e o romance em rebarbar com 50 dick pics de enxurrada, e nenhuma da cara, ou com um "vamos ali à esquina dar uma queca, porque estás mesmo aqui ao pé, segundo o GPS".
Encantador.

22 comentários:

  1. Não imaginas o que me ri a ler isto, mas pronto... ao menos és um gay fofinho e dado ao Amor :p

    Beijinho
    http://socorro-mudeioblog.blogspot.com

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    1. É sou um fofinho xD
      Mas é para rir mesmo, tendo em conta o que para lá apanhei xD

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  2. Bem, tenho a dizer que
    1. Não conheço o Grind. Conheço o gaydar e o manhunt, e são dois talhos, Essa parece ser mais evoluida.
    2. Tens um bom gosto para escolher fotos de rapazes.
    3. as pessoas não se tocam. A única vez que tive sexo casual foi muito interessante. Ele seduziu-me com música celta.

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    1. 1. Não conhecia o Gaydar sequer. O Manhunt conheço de nome mas nunca cheguei a criar lá perfil porque nem me despertou curiosidade
      2. Pois claro que tenho ahahah
      3. As pessoas tocam-se... é mas é de outras formas xD O que me chocou mesmo muito foi o rapaz do sexo sem preservativo honestamente. música celta? que raio? ahahah

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    2. O gaydar e mais antigo que o manhunt.

      Há inconscientes para tudo, meu caro...
      Sim, música celta. Esse sabia cantar, e bem, a canção do bandido... lolol

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  3. O Francisco costuma-nos relatar a realidade dura e crua como ela é. Não é preciso fazeres um perfil falso num site de enagtes para o descobrir. Isso não é o tal Grindr, mas sim qualquer rede social de perfis gays, como o manhunt ou o gaydar, ou tantos outros que não sei o nome. Amigos meus, perfeitamente normais, que sei que não andam à procura de sexo, usam o Grindr. E depois? Usam-no apenas para conhecer pessoas, como em qualquer outro site.
    Aliás, não precisamos de sair desta rede de blogues para encontrar pessoas que só têm blogue (e às vezes apenas perfil) para meter conversa e conhecer outros blogueres, exatamente para o mesmo (sei de vários que por aqui costumam andar, e que fazem o mesmo que no tal Grindr, mas de forma camuflada...).

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    1. Só não percebi muito bem porquê a referência ao Francisco mas adiante.
      Criei um perfil falso mais como experiência social que outra coisa. Nem é uma coisa insólita, e volta e meia vês em vários sítios fazerem isso. nem eu andei a roubar informações privilegiadas de pobres e inocentes cibernautas.
      Foi mais um teste áquela coisa de "a beleza está no interior", neste meio em especifico.
      Em lado nenhum do post me lês a dizer que anda tudo á caça no grindr e que só tem o grindr quem quer sexo casual.
      Mas também não vamos ser tapadinhos e dizer que uma boa fatia não o usa mesmo com esse intuito.
      E é nessa dimensão que me foco especificamente porque foi aquela a que fui exposto. e continuo a achar degradante independentemente de teres ou não amigos que usem o grindr para fazer amigos, a maneira como as pessoas que não querem saber de amigos para nada se expõem por lá.
      Isso do andar á caça é muito relativo, e como disse, não condeno. mas há formas e formas e não gostei desta forma em específico.

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    2. A refeência ao Francisco é apenas porque ele e as suas histórias são uma referência da blogosfera, e porque nos fala de uma realidade muito mais "chocante" do que essas. E, sim, vale muito a pena ler.
      Quanto ao que cada um procura, ou oferece, isso é com cada um. Tu fizeste um perfil que procurava ou oferecia algo que aquelas pessoas preocuravam.
      Resume-se a isso.
      abc

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    3. Bem, mas como tudo neste mundo, há espaço para os diferentes tipos de blogues. Não estou a tentar copiar o Francisco ou roubar-lhe mérito ou whatever - até lhe leio o blog e gosto muito dele xD - e não percebo porque é que te arreliou tanto este post em particular, tendo em conta que não estou a atacar ninguém.
      Li e reli o post umas 3 vezes e estou a tentar perceber onde é que meter uma foto de um gajo vestido numa aplicação "para conhecer amigos" é pedir para receber fotos pornográficas, ou oferecer o que quer que seja .
      É o mesmo que dizeres que aquelas pessoas que se disfarçam para ver negócios clandestinos de perto e documentar estão a fazer uma coisa extremamente errada, porque foi basicamente isso que eu fiz.
      Nem me vou alongar muito no assunto porque já percebi que alguma coisa te caiu mal no assunto, e até porque tens direito á tua opinião como eu tenho direito à minha e parece me que são as duas divergentes neste assunto em particular. Nem por isso vou deixar de aceitar os teus comentários, porque um debate é sempre interessante.

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    4. Mas este post não me arreliou, nem temos sequer opiniões divergentes porque nunca sequer usei esse site. Comparei-o apenas a outros conhecidos, e que a única coisa que tem de novo julgo ser o facto de estarem associados a um gps. Apenas quis dizer que a história não me chocou ou escandalizou.
      E a razão porque o teu perfil ou foto chamou a atenção, só eles saberão...
      Depois de ler outros blogues (como o do Francisco, porque é um exemplo), julgo que nenhuma história me choca.
      Em relação a deixares de aceitar os meus comentário, é uma liberdade que tu tens XD

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    5. Fiquei "chocado" vá, não foi coisa de me tirar o sono. Já apanhei coisas bem piores fora daquilo, a um nível moral, até já falei de algumas delas aqui.
      O ponto deste post não era ser uma coisa séria e lifechanging, era pegar em toda a promiscuidade e rir um bocado com isso xD eu pelo menos ri me.

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  4. Gostei da forma como escreves, ri-me bastante :)

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  5. rodízio virtual é maravilhoso :-D
    Há uns anos, na mesma onda criei uma joça dessas no gaydar, e...puff duas horas bastaram. Nem considero a existência dessas duas horas na minha vida...não...não é a minha cena. Uma pessoa gosta de romance, de borboletas no estômago, de rir, de conhecer...:-)

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    1. Já li tanto aqui do gaydar, nem conhecia mesmo.
      Que invenção do demo será essa?
      É mais ou menos como me sinto meia noite, não tem a mesma magia..

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  6. Adorei loool xD Nem sequer sabia que isso existia

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  7. Ahahaha, o que eu me ri xD Se és um romântico, mais vale arranjares outro meio para conhecer pessoas porque já se viu que o Grindr tem outros interesses :p

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    1. Isso foi mais uma experiência social vá, não estava a contar conhecer ninguém na altura. Se estivesse ia com a minha foto e assim.

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  8. Eu penso como tu. Mas foi graças ao Grind que descobri um primo meu LOLOLOL

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