Grindr, Take #1

sábado, 3 de setembro de 2016


Agosto
Estou naquela fase.
Gato escaldado com bastante medo da água quente.
Tento não cair no cliché de assumir que os homens, essas grandes bestas, serem todos iguais.
Instalo o grindr, no auge do verão, camisas decotadas e depilações feitas, e espero que caiam propostas.
E elas não tardam, pequenas restaurações temporárias na minha fé pelos homens, e pela minha vida romantico-sexual.

Escolho um dos poucos que não me ilumina o ecrã com convites para um fodão ou derivado, porque estou - aparentemente - numa de boa moça.
Falamos da vida, de gostos, de aspirações, toda aquela conversa digna de mostrar à tia-avó emigrada, com pequenos laivos de química e boas doses de flirt.
Trocámos a foto da praxe, e eventualmente, combinámos um encontro, meio a palpar terreno.

E vou, sorridente pelo mar de turistas, entretido pela música e pela promessa de uma noite interessante.
Sento-me num banco à beira mar e espero.
Espero uns minutos.
Espero uma hora.
Espero duas.

Desisto depois de não obter resposta a nenhuma das mensagens e não ver sinal do rapaz.

Compro um gelado e subo a rua, e vejo pelo canto do olho um casalinho aos beijos num canto menos iluminado da rua.
Dois miúdos novos, Provavelmente turistas, um loiro e baixo, com gargalhadas sôfregas a fingir afastar as investidas de um moreno de óculos.
Reviro os olhos, suspiro e acelero o passo, controlando a ânsia de dar um safanão aos dois miúdos e gritar-lhes que é provavelmente uma paixãozeca idiota de verão, influenciada pelo bronzeador e pelos mojitos, fadada a morrer na mesma altura em que as minhas camisolas de malha voltem a ocupar a prateleira principal do armário.

Deixem-me.

Estou naquela fase...

Ou talvez não.