No outro dia, a meio de uma conversa com alguns colegas de trabalho, surgiu a já relativamente comum cobrança:
"Ah, nunca mais me adicionas no face(book)"porque eu raramente adiciono pessoas na dita rede social, se não me apetecer lidar com eles fora do estritamente necessário.
E isto levou-me à constatação que dá título a este post:
O facebook é contra natura.
Sempre que se fala em facebook - ou qualquer derivativo social - a primeira ideia que se ressalva, é que é maravilhoso, porque afinal, permite a pessoas que perderam o contato há anos, reuniões emocionadas.
É pela internet que se reencontram velhos amigos de escola básica, antigos professores ou pessoas com as quais o contacto é praticamente inexistente há anos, ou até mesmo em alguns casos décadas.
Há toda aquela ilusão de que estamos a enriquecer as nossas vidas deixando entrar nelas aquelas pessoas que em tempos fizeram parte delas, como se todas estas conexões sociais sem as quais vivemos todo este tempo -e pelas quais na maioria dos casos, nem sentimos qualquer tipo de falta- fossem subitamente essenciais.
E o espectro ainda alarga mais, porque na prática, deixamos entrar nas nossas vidas através desta pequena maravilha tecnológica toda a gente com a qual temos pequenas interacções sociais,
Desde aquela pessoa que encontrámos numa festa de um amigo em 3º grau em comum, até àquela ex colega insuportável de universidade com 7 gatos e mania que é fotografa que gosta de partilhar fotos da comida cheias de filtros e hashtags..
E eu pergunto:
Mas de que forma é isto lógico?
Ora vejamos. Se há dez anos - hipoteticamente falando, porque nessa altura em tinha 15 anos e ainda não trabalhava - eu me integrasse numa equipa de trabalho, e simpatizasse com colega X, iria "perseguir" essa amizade.
Trocaria número de telefone, marcaria o ocasional café, faria programas com a pessoa, lembraria de aniversários e daria uma força quando visse fulano em situação mais complicada.
Do mesmo modo, não me esforçaria por saber da vida de colega Y, com o qual não tinha particular afinidade, e eventualmente o contato seria apenas profissional, morrendo na altura em que deixássemos de lidar um com o outro nesse âmbito.
Não por rancor ou inimizade, simplesmente por falta de interesse de ambas as partes.
É natural que tal aconteça... afinal é assim que funcionam as relações entre as pessoas.
Escolhemos quem queremos que faça parte da nossa vida, e quem não o faça.
Mas o facebook veio baralhar tudo isso, com o seu "adicionar amigo".
Coleccionam-se "amigos" como quem colecciona selos.
Toda a gente adiciona toda a gente, e dentro da telinha toda a gente é amiga de toda a gente, mesmo que na vida real não se suportem, ou mal se conheçam.
E se não te sujeitares a estas "socializações" forçadas, és um grande antisocial.
Pelo menos é o que me dizem, quando me recuso a adicionar essas hordes de pessoas com as quais não quero ter qualquer tipo de ligação porque sei que não vai resultar em nada senão em mais histórias desinteressantes de pessoas de quem não gosto a espreitar para o que eu faço ou deixo de fazer, só pelo bem estar de egos alheios.
Mas se calhar sou eu, que "às vezes tenho alma de velho".