A culpa é da Globo

sábado, 31 de outubro de 2015



Revisitando o passado, dei de caras com uma das minhas primeiras paixonites platónicas.

Como boa criança portuguesa dos 90's que fui, cresci alimentado a programas generalistas com música pimba - o saudoso (e francamente mau em retrospectiva) big show SIC no topo da lista - e infindáveis novelas da globo.

Entravam por minha casa dentro, todos os serões, e calmamente em família, devorava as histórias, embalado pelo português macio de terras de Vera cruz, onde aparentemente as mulheres eram sempre altas e magras, os homens charmosos e os pequenos almoços dignos de um buffet intercontinental.
Era tudo simples e linear, o rapaz conhecia a rapariga, casavam-se e tinham em filhos o equivalente numérico a uma equipa de futebol, com direito a baladas da Ana Carolina como banda sonora, e a muitas lágrimas pela mistura.

E depois, um dia qualquer, num dos setecentos episódios da novela da altura, o Marcos Palmeira tirou a camisa.
E dentro de mim, qualquer coisinha fez o clique.

Entendamos que por aquela altura tinha praí uns dez anos, sexo era uma palavra, uma noção abstrata que não tinha qualquer desejo de compreender, e ainda estavam relativamente longe os meus anos de  dúvidas sobre o assunto - quando as pequenas paixonites pelos coleguinhas de escola começaram a aumentar de intensidade - , e por arrasto sobre a minha  própria identidade.

Não percebia muito bem na altura qual o apelo de ver um homem suado sem camisa, tendo em conta que sempre achara as mulheres de bikini francamente desinteressantes, e beijos na boca me pareciam a coisa mais nojenta do planeta - oh ingenuidade da juventude - mas nem assim parava de olhar maravilhado para as curvas e contra curvas do senhor na telinha.
O que tornou a minha pequena cabeça numa salada russa de dimensões industriais, afinal, o highlight da minha noite era esperar por aquelas curtas cenas em que ele aparecia em tronco nu - nos anos 90, altura das calças de cintura alta, em que um six pack era apenas uma embalagem de cerveja na américa e a depilação era uma tendência por descobrir- por obra e graça divina, ou do roteirista.


Então, um dia qualquer, começámos a falar de pénis e vaginas na escola, e toda aquela confusão de ereções vasos sanguineos ejaculações e penetrações, que faziam os meninos rir e as meninas corar.
(O timing mais apropriado para um pequeno rebento de bicha pervertida em formação, realmente.)
E, com o meu recém, adquirido conhecimento cientifico, resolvi desenhá-lo, num nu frontal de dimensões realistas, usando como referência a minha memória fotográfica, e o livro de ciências naturais da escolinha - porque sempre fui uma bicha cheia de recursos.

Vendo bem em retrospectiva, não sei muito bem de que sinais precisava ter recebido uns anos mais tarde em plena adolescência para me aperceber que gostava mesmo de rapazes. talvez um sinal de neon a dizer "gay" na testa tivesse ajudado a cortar todo o drama interno pela metade.

Então, qual Gollum, guardei o desenho, debaixo da cama, revisitando-o cheio de orgulho artístico - e suponho que alguns laivos de libido - , até a minha mãe fazer uma limpeza ao quarto e se deparar com uma pintura rupestre - porque sejamos honestos, desenhos de crianças raramente são bons - de um homem nu e cabeludo com uma pila francamente desproporcional.
Claro que na altura nada disto me pareceu estranho ou digno de análise, e inventei uma desculpa esfarrapadíssima sobre como o desenho era para um trabalho da escola - não sei para que disciplina, suponho que para iniciação à bicheza - e fiz com que ele desaparecesse da face da terra - o que é uma pena, porque agora era bem capaz de o partilhar aqui se soubesse o seu paradeiro - , continuando no entanto a apreciar na telinha o Marcos Palmeira sem camisa.

Por isso, quando tiver "a conversa" vou dizer "Eu não era gay, a culpa foi da globo"

E vocês? qual foi a vossa primeira paixonite, televisiva ou derivados, tudo serve, partilhem!

Netflix, netflix

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Se eu tinha alguma esperança de desencalhar com a proximidade das férias invernal, veio o netflix  para reduzir a minha futura vida social/sexual a poeira cósmica.

Sabes que és gay quando:

segunda-feira, 19 de outubro de 2015


Achas um desperdício, homem bonito casado com mulher feia.

Cem mil

domingo, 18 de outubro de 2015

Parece que passei as cem mil visitas no outro dia.
Isto pode nem ser grande coisa, mas pra mim que tenho um blogzito tão modesto e pessoal é.
Por isso, muitos obrigados a vocês todos que cá vêm parar.
São estas coisas que dão vontade a uma pessoa de continuar.

O Casal

domingo, 11 de outubro de 2015

(não resisto a usar este vídeo)

Ainda na minha fase Polyanna, que se esmorece mais a mais com cada experiência falhada, inscrevi-me em mais um aplicativo - Já lhes começo a perder a conta.
Controladas as minhas quase incontroláveis expectativas, já tinha ultrapassado a fase de procurar desencalhar - pelo menos parcialmente - , passando a contentar-me com a eventual queca divertida com algum gajo giro e interessante.
Com o passar dos dias, comecei a acreditar mais na fada dos dentes do que na realização dessas expectativas bastante básicas.

Parece que no Algarve só há casais à procura de rambóia, ou "amizade especial" como tão subtilmente sugeriam nas mensagens que me mandavam uns atrás dos outros.
Juntando à equação as intermináveis exigências dos solteiros de "sigilo" e "discrição" fiquei com a vincada impressão que estava a pedir códigos para o lançamento de mísseis nucleares, cada vez que queria combinar um café ou um cinema com um torso sem cabeça.

Então, um dia qualquer, Senti aquela descarga de adrenalina que a típica dona de casa suburbana sente quando vai ao supermercado e compra as cinquenta sombras de grey juntamente com arroz carolino e uma lata de ervilhas cozidas para o jantar, uma grande puta pioneira na arte dos menage a trois, e resolvi por responder a uma dessas mensagens de um casal das redondezas.
Teclei com muita facilidade, regado de vodka e aborrecimento.
Disse-lhes que nunca tinha feito tal coisa e pareceram-me muito compreensivos e simpáticos, o que vendo em retrospectiva acontece sempre que alguém nos quer saltar para a cueca.
Em aproximadamente cinco minutos evoluímos da conversa cliché de quererem fazer amigos - que devem dizer a todos - para descrições muito...gráficas de fetiches sexuais e coisas que me fariam quando me pusessem a mão -e outras partes do corpo - em cima.

O resto da conversa foi meio que um borrão de elogios e sugestões.
No dia seguinte, a vodka tinha saído toda do sistema, e com ela foi toda a minha coragem líquida.
Subitamente, a puta pionera, virou virgem vergonhosa.
Reparei que afinal não eram assim tão giros.
E que moravam a quase cinquenta quilómetros de mim.
E que queriam que eu fosse ter com eles para um sítio que desconhecia completamente.
E passou-me a vontade completamente, enquanto pensava que nunca mais devia andar com aplicativos de engate, com vodka no sistema.
Afinal eles eram simpáticos, e sabiam que eu nunca tinha feito nada disto, e que era normal que ficasse nervoso e pudesse mudar de ideias, iam compreender.
Então, como uma pessoa racional expliquei-lhes que afinal não queria. Que não estava pronto para me meter numa situação dessas e tinha ponderado e tal.
E lá foi a compreensão com o caralho.
Foi um bocado como se tivesse prometido dar um rim a alguém, e me tivesse levantado da mesa de operações cinco minutos antes da cirurgia.
Passámos da negação à chantagem emocional numa cena digna da novela das oito.
Aparentemente um deles partiu um candeeiro e andava aos berros lá em casa, com a fúria imensa de não poder possuir o meu esbelto corpitxo.

Enquanto isso, o outro me dava uma lição de moral interminável, porque, tinha por escrito por mensagem a minha intenção de me enrolar com eles, e isso é lei.
Quanto mais lhes tentava explicar que afinal não me estava a soar tão bem a ideia de fazer 100 kms para dar uma queca, agora que estava sóbrio e racional, mais me tentavam fazer sentir mal, e reconsiderar.
Prometeram-me um jantar à luz das velas - provavelmente porque já não tinham candeeiro para acender - e uma noite inesquecível - que provavelmente incluiria levar com o outro candeeiro na tromba se corresse mal.

 E quando disse que não, que talvez mais tarde, mas que podíamos continuar a falar, e talvez desenvolver uma amizade - porque afinal, tinham dito de cinquenta maneiras diferentes que procuravam amiguinhos por lá, a eterna aldrabice não é verdade? - disseram-me que iam deixar de me falar, mas que se reconsiderasse lhes podia dizer.

Até hoje nunca mais voltámos a falar, não sei muito bem porquê.


*Eventualmente fiz mesmo sexo a três, mas isso fica para outro dia. 
Ou então não que isto não é o - falecido - blog dos menages.*

Já alguma vez vos aconteceu algo parecido com alguém?
Um engate que não tenha levado bem a tampa?
Vá, comentem-me, à bruta.

O José Rodrigues dos Santos é homofóbico?

sexta-feira, 9 de outubro de 2015


Então uma pessoa liga a internet, e um sururu invade o computador, um burburinho de indignação coletivo de recriminação o José Rodrigues dos Santos.
Aparentemente disse, "o candidato, ou candidata" referindo-se  a um dos recém eleitos deputados por ser o mais velho a ser escolhido para integrar o corpo político.
E qual é o interesse, dizemos nós?

O homem é gay, e aparentemente todos os gays do país levaram isto a peito.
Quando vi a reportagem, em direto - porque vejo o telejornal - , ocorreu-me que estivesse a fazer uma graça, um suspense, uma revelação, porque o telespectador comum podia não saber quem era o eleito com 71 anos, e só o ficaria a saber, depois de ver toda a peça jornalística. 
Mas acho que mais ninguém levou a coisa por este ângulo.


Em vez de andarem a ocupar-se com algo produtivo- tipo sugerir alterações nas leis de adoção ou no protocolo de doação de sangue -, todos os gays do país foram para o facebook do jornalista desancá-lo como podiam.
Agora, o José Rodrigues dos Santos virou homofóbico que faz chacota de deputados gays, aparente e forma tão descerebrada que ficou abestalhado o suficiente para fazer gracinhas em direto para milhares de telespectadores, diga-se de passagem.
Para ajudar à festa, o senhor já veio dizer a publico que estava muito ofendido e pedir a todos os partidos politico para se manifestarem com a situação - ainda nem é deputado oficialmente e já anda a puxar dos poderes políticos.
Bicha a senhora devia ser passiva, só pra ver se aumenta o poder de encaixe.

Depois admirem-se de não serem levados a sério por armarem estas peixeiradas cada vez que sentem o ego - e o pseudo orgulho gay que só aparece nestas ocasiões - arranhado.