Vítima

terça-feira, 1 de abril de 2014



Quando se pede a alguém, para descrever o que mais os marcou em American Beauty, toda a gente salta automaticamente para a icónica cena das pétalas de rosas, ou para o saco a esvoaçar ao vento filmado pelo jovem incompreendido do filme.

Eu por outro lado, lembro-me sempre daquela cena já no final em que a Annette Bening repete o mantra duma cassete de auto-ajuda incessantemente "Eu recuso-me a ser uma vítima" enquanto conduz no carro debaixo de uma chuva torrencial com uma arma na mala.
E embora as condições de toda esta cena fossem um bocado extremas - como o filme pedia - e a personagem tivesse o seu quê de perturbação mental, não consegui deixar de me identificar com ela.

A vida não é simples.

Não é um filme, em que tudo corre de acordo com um guião estruturado e perfeitamente interligado, em que tiramos uma lição de moral quase no final, e tudo acaba por ter uma justificação.
As coisas más acontecem muitas vezes sem explicação e sem aviso.

A mim já me aconteceram algumas.

Como provavelmente já vos aconteceram a vocês, que estão a ler.
E a verdade, é que depois de uma coisa verdadeiramente má nos acontecer, temos uma escolha. podemos fechar a janela, apagar as luzes e enrolar-nos numa bola de auto comiseração a soluçar sobre os nossos dramas, ou podemos tentar seguir em frente.

Não me interpretem mal.
Não digo com isto que temos que engolir tudo e guardar para nós numa caixinha numa parte isolada do cérebro, como se nada se tivesse passado.
Não recuso a ninguém o seu sofrimento, nem o ponho em causa.

Mas revolta-me ver pessoas que vivem da pena alheia. vítimas profissionais que carpem as mágoas como quem respira, para receberem umas migalhinhas de atenção e encorajamento que acham que merecem, porque só assim é que se sentem bem, no papel de coitadinho.

E talvez por isso, quando me acontece alguma coisa má, quase instintivamente pense "eu recuso-me a vítima", enquanto sacudo a poeira e me volto a levantar.

Porque mal ou bem, sentir pena de mim mesmo, não me vai levar a lado nenhum, nem a mim, nem a ninguém.

10 comentários:

  1. :-) Lembro-me muito bem da cena "eu recuso-me a ser uma vítima", para mim são tantas as cenas que marcam este filme. Há uma que é quando a atriz Annette Bening já na parte final do filme agarra-se à roupa que estava no armário (bem que era +/- asim...) e chora.

    A música é uma surpresa, pois quando fui pesquisar quem era a banda (gostei do som) vi que era a banda que abriu o concerto da Lady Gaga em Portugal e talvez por desconhecer a banda não gostei lá muito.

    O papel de coitadinho só fica bem a quem o veste, aos olhos dos outros não é bem assim.

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    1. Juro, não conhecia a banda de lado nenhum ahahahah, ouvi a música aleatoriamente e gostei imenso.
      Sim essa cena também me lembro. escusado será dizer que ela foi a minha personagem favorita do filme :P
      Pois não sei a quem fica bem, a mim parece-me que fica mal a toda a gente.

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  2. Custa-me comentar porque é o meu filme preferido e por isso mesmo ainda não consegui fazer um post sobre ele...

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    1. Volta e meia revejo-o Dora. a primeira vez q o vi tinha prai 13/14 anos e houve partes que não percebi, mas desde então cada vez que o vejo tiro uma leitura diferente do filme. Não diferente a nível de significados mas de interpretação dos diversos momentos. acho que é isso que faz um bom filme ou livro.

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  3. não te levo nadaaaa a mal, bem pelo contrário...de forma inata, a minha reação aos coitadinhos da vida é tensa, muito tensa...não suporto lidar com auto-vitimizações, não suporto.

    Olhaaaa os Semi Precious Weapons...já os vi ao vivo, muito loucos! I CAN'T PAY MY RENT BUT I'M FUCKING GORGEOUSSSS :-D

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    1. Eu fico stressado. Sou uma pessoa péssima para ter ao pé em momentos de coitadismo, ligo o veneno em vez de passar a mão na cabeça.
      Por acaso não os conhecia, gostei do que ouvi até agora ;)

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  4. Mas estás a falar de mim? LOLOL

    E a cena que mais me lembra do "Beleza Americana" é o militar ir dar um abraço ao Kevin a pensar que ele era gay LOL

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    1. Sim, tu és a maior vítima da blogosfera! uma pessoa entra no teu blog e chora lágrimas de sangue ahahahah
      (Seu badalhoco, com memórias homocoisas relativamente ao filme. tsc tsc)

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    2. LOLOLOL E ia foi ai que comecei a perceber que ser gay poderia ser normal LOLOL

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    3. Por acaso não foi bem nesse filme que fiquei com essas ideias (pelo menos da primeira vez que o vi fiquei com a ideia que os gays reprimidos iam todos dar tiros aos vizinhos que os rejeitassem ahahah.) mas percebo o que queres dizer

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