Cidadãos de Segunda Categoria

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016


Hoje, folheando os blogs, lembrei-me de quando no More- deviam ir também, ele até fala de coisas interessantes - se perguntou se sentíamos a necessidade de nos assumir ou não no ambiente de trabalho.
Isto lembrou-me uma história que aconteceu há uns meses.

Como todas as histórias interessantes, esta começou depois de uma salada de batatas, no jantar da empresa - Se soubermos que a vodka é destilada a partir da batata, não deixa de ser verdade. - ... ou sete. Não sei, era open bar, deixei de contar as "saladas de batata " a certa altura.

Rapidamente entrei na fase Quenga, sabem bem o género: Visão toldada, libido em alta, e discernimento zero, aquela sensação extasiante de quem vai comer até o barman zarolho, porque o espelho reflete um garanhão sensual e pujante, irresistível aos olhos de qualquer mortal num raio de cinco quilómetros.
Como seria de esperar nessas condições, acabei por me enrolar com um moço na pista de dança de uma discoteca "hétero" - que sinceramente me começa a parecer uma diferenciação ridicula, porque a discoteca não tem sexualidade - , sem grandes pudores, afinal, não estava a fazer nada de propriamente errado - afinal quem nunca - e nessa mesma pista de dança, a alguns passos, um colega meu fazia precisamente o mesmo com uma rapariguinha aleatória.

O post agora poderia contar de forma rocambolesca e divertida como tive uma one night stand com o rapaz e depois quase morri de constrangimento quando o efeito da bebedeira passou a meio do acto e vi com quem me tinha enrolado, mas não é essa a ideia.

Retrocedamos novamente até à pista de dança, onde estávamos os quatro alegremente na marmelada, eu com um rapaz e o meu colega com uma rapariga. no meio deste cenário sinto uma mão agarrar-me firmemente no ombro, enquanto  um dos meus colegas nos separava, e dizia para "nos controlarmos".
Eu, que até nem sou particularmente exibicionista, em condições normais, acedi por uns segundos, culpando a bebida.
Afinal estávamos aos beijos em plena pista de dança.
Sentei-me com uma bebida na mão, enquanto o meu par se afastou até ao wc, e num acesso de lucidez, olhei em redor.
No mesmo lugar exato continuavam o meu colega, e a sua amiga alegremente aos beijos e esfreganços descarados.
E ficaram nisto mais um bocado, sem uma única pessoa se dirigir a eles e dizer para "se controlarem".
A única diferença para o que se estava a passar entre eles e nós, uns momentos antes, era a existência de uma vagina na equação.
E sabem o que aconteceu?
Dentro de mim, toda uma revolta incontrolável incendiou-se - provavelmente ajudada pelo álcool no meu estômago, que dava para abrir uma destilaria. - com o preconceito velado.
Podia ter começado uma discussão.
Podia ter dado uma lição de moral ao rapaz que nos foi separar.
Em vez disso, qual cabeça de fósforo que sou, fui cambaleante buscar o outro desgraçado que estava a beber um gin no bar, arrastei-o até à pista de dança e, qual grito do Ipiranga , preguei-lhe um beijo enorme, digno de cinema - porno é cinema também, okay? - e dançamos desajeitadamente, em celebração daquela recém forjada liberdade - em retrospectiva, talvez ele só tenha dançado porque sabia que íamos acabar nus naquela que rapidamente se tornou na one night stand mais estranha de toda a minha vida, mas não divaguemos.
E isto não é uma lição de moral.
Ou talvez seja, não sei.
Ninguém tem que exibir a sua sexualidade.... Mas porque temos que a esconder?
Só beijar em discotecas gay e dar a mão em sítios desertos,ou no cliché do escurinho do cinema, pode ser mais confortável, mas Somos nós cidadãos de segunda categoria, para nos limitarmos a fazer as coisas mais mundanas apenas em ambiente específico controlado?
Para não chocar ninguém?
Onde está a igualdade nisso?

7 comentários:

  1. Não tenho qualquer receio de andar de mão dada ou beijar o meu companheiro em publico, já dancei com o meu namorado numa disco "não gay", havia de facto muita gente a olhar, mas ignorávamos completamente. No calor da bebida acho que qualquer casal se torna mais excessivo em tudo, mas compreendo o constrangimento de alguém vir ter ctg e mandar-te parar - WTF? eu tenho uma máxima, em relação ao comming out no trabalho, não pinto na testa que sou homosexual, mas se perguntarem digo.

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  2. Igualdade não existe e não existirá ainda não sei por quanto tempo. Neste meio tempo, sem desfraldar bandeiras, nunca me escondi de quem quer que fosse minha orientação sexual. Família, amigos, colegas de trabalho etc etc etc. Nunca me dei mal com isto.

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  3. Eu acho que a atitude do teu colega em separar-vos foi uma tristeza. Quem pensa ele que é para fazer aquilo? Há pessoas que não sabem bem os limites da liberdade, só pode...

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  4. O último gif do teu post resume perfeitamente o que sinto em relação a isto. ;)

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  5. eu beijo o meu namorado onde tem de ser. O pingo doce é um sítio fofinho para o fazer. e andamos de mão ou braço dado na rua.

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  6. brilhante seu post e iluminada sua atitude... mas... em defesa do seu amigo, eu diria que ele talvez - em função do nível de batata no seu organismo - tenha apenas te alertado por estar fazendo algo que talvez não quizesse estar fazendo...mas sendo isto ou não sua atitude foi "porreta"!

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  7. Sabes, demonstrações de afeto nem sempre caem bem aos outros, diria invejosos ou outra coisa.

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(sou ótimo a motivar as pessoas hein?)