O melhor encontro de sempre

quarta-feira, 22 de abril de 2015


Tinha sido uma semana péssima, a juntar a tantas outras semanas péssimas que se sucederam em catadupa.
Os amigos, ocupados com o trabalho e com as próprias vidas, não me serviram de grande consolo, e o namorado imaginário infelizmente também não soube desempenhar o seu papel.
Uma onda de autocomiseração abateu-se sobre mim, qual tsunami psicológico, quando caí no erro de me pesar e reparar que engordei 5 quilos, rapidamente atribuidos aos ataques de gula e ás invasões madrugadoras ao frigorífico para roubar cheesecake e bolo de bolacha.

Todas as energias foram pelo mesmo ralo que o dinheiro do mês, e dou por mim, à uma da manhã de sexta feira sentado na cama de robe e manta com uma caneca de chá, assistindo um episódio da minha série de culto - desperate housewives - a ponderar em que encruzilhada da vida dei o pisca para o lado errado, para estar tão miseravelmente infeliz, sem direito sequer a um gato para preencher o vazio que nenhum brinquedo de sex shop alguma vez conseguirá.

Nesse preciso momento, qual sinal divino, o ecrã do telemóvel acende-se em todo o seu esplendor, vibrando alegremente qual bóia de salvação da noite para maiores de 70 anos que se estava a formar no meu quarto.
Um rapaz qualquer aqui das redondezas viu o meu perfil.
"Olá, és giro. queres vir cá a casa?"
"...Olá . Aí a casa?"
"Sim"
"... Fazer?"
"Sei lá... conhecermo-nos melhor, conversar e assim"
vamos abrir um parênteses para o facto de ser uma da manhã, eu estar de pijama, carente e miserável, sem chocolate no armário nem homem na cama. Para isso e para o pormenor mais que muito lógico de que não existe homem nenhum neste planeta a convidar desconhecido/as para sua casa a meio da noite sem segundas intenções. 
"Hm, okay, porque não?"
Na minha cabeça, um encontro duvidoso parecia melhor alternativa que encontro absolutamente nenhum. e do ponto de vista puramente comercial, se não expuseres o produto, ele não vende, não é verdade.
E lá me pus eu no carro, e guiei 5 minutos a pensar se não ia ser assaltado e morto e ninguém ia saber de mim. Pelo menos não estava a beber chá de roupão. Já era um avanço emocional.

Chegado à porta do prédio, encontrei o a fumar, muito tenso e com cara de poucos amigos.
Não era bonito de todo, mas tinha aquele aspeto de camponês rústico que descarrega a frustração sexual reprimida a cavar couves e batatas.
Sim, eu sei.
Eu tenho problemas.


Adiante.
Cumprimentei-o e resolvi ver onde ia dar.
E aqui começou a hora mais estranha da minha vida até à presente data - e sim, estou a contar com aquela vez nas praxes, em que nos trancaram num barracão deitados uns em cima dos outros sem camisa e eu não conseguia decidir se tinha uma ereção ou um colapso nervoso traduzido em riso por causa de todo o fetichismo gay inerente, saído de um qualquer porno rasca dos anos 80. 

Entrámos no apartamento, e disse me para me sentar à vontade, no pequeno sofá cama duro e cheio de bugigangas em cima, virtualmente sem espaço nenhum para te sentares "à vontade", ligou a TV e sentou se ao meu lado.
E ali ficámos, uma hora nestes preparos.
Ele de pernas super abertas, talvez a querer marcar território, talvez a mostrar virilidade - o que não resultou muito bem - semi deitado no sofá, e a criticar as séries que passavam na TV, enquanto dizia em tom reprovador que "as mulheres são todas umas histéricas" e reclamava com os turistas e com o sistema nacional de saúde, sempre de olhos fixo na TV e corpo encostado ao meu.e mão sobre o meu peito
Eventualmente um pequeno volume surgiu timidamente nas calças jeans do rapaz.

Outro pequeno parênteses. Eu quando fico muito nervoso, tomo as piores decisões DE SEMPRE.
Juntemos a este parênteses o anterior, e façamos a equação. é óbvio que vai dar merda.
Então, enquanto conferenciava com amigos - obrigado internet móvel - cheguei á conclusão, que talvez o rapaz estivesse só nervoso.  Resolvi roubar-lhe um beijo. afinal, perdido por 100, perdido por 1000.

Nunca tive uma experiência de quase morte, ou vi um acidente de perto, mas pelo que descrevem, foi basicamente a mesma coisa.
Todo o mundo começou a mexer-se em camara lenta, enquanto a minha cara se direccionava à dele, e vi ao pormenor o humilhante momento em que, ajeitando o volume nas calças, desviou a cara para o lado e disse "não, não"

E ali fiquei eu, a rir nervosamente, a tentar desculpar-me ao mesmo tempo que lhe queria pregar um bujardão na tromba porque foi a primeira vez que alguém me negou um beijo desde que me lembro de ter usado a boca para propósitos que não comer.
A série acabou - por algum motivo continuou com a mão no meu peito mesmo depois de me renegar até ao infinito e mais além -, e subitamente ficou cansado.
"Tenho que ir trabalhar cedo amanhã, blablablabla"
Levou-me à porta, deu-me um passoubem, e deixou-me na duvida.
Talvez queira levar as coisas com calma, e só queira beijos lá pro 5º encontro.
Talvez me tenha calhado o último cavalheiro gay.
Passadas umas horas, bloqueou-me e eclipsou-se da face da terra, mesmo como um cavalheiro moderno não interessado faz.

E dei por mim novamente na cama, a ver a minha série, no dia a seguir a pensar em como seria agradável encontrar um moço na fila do supermercado que me convidasse para ir ao cinema, em vez de só apanhar estas histórias da carochinha, em que a carochinha sou eu e acabo sempre como a da imagem acima.

Agora deixo-vos a bola no campo - para não se queixarem que sou só eu a falar:
Qual foi o primeiro encontro mais constrangedor a que já foram na vida?

22 comentários:

  1. Men... nem um copo de vinho te ofereceu!? Há pessoas que não são hospitaleiras mesmo...
    Qt tiveres assim liga-me... Há sempre vinho em casa! :P

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    1. Ofereceu águinha, del cano. já não foi mau.
      Quando me quiser embebedar vou ter a tua casa, é isso? xD

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  2. Foi por ai também. Não a esse ponto porque eu era uma virgem ofendida e marcava sempre os dates nos centros comerciais com muita gente. Mas normalmente, o homem que tem esse tipo de comportamento acaba por arranjar uma miúda, casar e ser infeliz. Aliás, é a postura (que reconheci em todos os casos que me aconteceram) do sou gay, mas não quero ser gay. Infelizmente há quem opte por viver uma vida diferente, como se fosse uma personagem. E há quem escolha outro caminho. Cada um sabe de si.

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    1. Pois olha não sei quais as escolhas dele. Só sei que ele escolheu o caminho de ser mal educado xD

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    2. Não me parece que ele esteja preocupado com isso... lololol

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  3. Oi? O que é que eu acabei de ler? Estou atônito nem sei o que te diga moço... Há com cada um.

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  4. me divirto com suas estórias ... kkkk ... eu, por aqui nunca vivenciei nada semelhante ... amém ... que assim seja sempre ... rs

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  5. Ha varios anos fiz uma loucura bem parecida com a sua, soidão ,sair de casa... no caso fomos um pouco - muito - mais adiante, mas terminou do mesmo jeito, só que eu dizendo que tinha que ir embora para trabalhar e eu bloqueando o dito cujo! rsrsrs

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    1. A gente nem chegou tão fundo - rs - mas o resultado foi semelhante. Neste caso o que achei meio constrangedor, foi ele me convidar pra ir na casa dele, e depois me bloquear

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  6. E apareceste em casa dele de robe e manta sobre os ombros ou mudaste de roupa primeiro? se foi a primeira opção isso pode ter condicionado a forma como correu o encontro :P

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    1. Eu ia só com uma folhinha de parreira, como me ensinaste :3

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  7. Cara o meu pior encontro na verdade não foi apenas um,foram três com o mesmo motivo, duas meninas e um menino. O papo nos comunicadores instantâneos era muito bom, porem pessoalmente elas não desgrudavam do aparelho celular, uma menina ainda teve a audácia de me indagar de eu não falava nada, porque eu não puxava assunto. Ai te pergunto, você acha que eu iria disputar a atenção de uma pessoa com um celular? :\

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    1. Ai, acho isso uma falta de educação grosseirissima.... não consigo lidar com pessoas assim. se fosse comigo tinha levantado e ido embora

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  8. Esta tua short story fez-me rir, sorry...ainda estou para ter um, mas pelo o que sei, é o mais fácil de acontecer :-p

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  9. AMEI:D
    O rapaz teria certamente um problema emocional qqr...
    Já pensast em escrever um livro de crónicas? Terias sucesso :D

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    1. Deves pensar que eu me chamo claudio ramos, esse é que escreve livros das crónicas da vida dele. xD

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    2. Sabes, ao contrário das dele, as tuas dão vontade de rir :D

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  10. "...um encontro duvidoso parecia melhor alternativa que encontro absolutamente nenhum. e do ponto de vista puramente comercial, se não expuseres o produto, ele não vende, não é verdade."
    Muito boa esta frase! Uma pérola dos tempos modernos!! :)

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    1. É o meu novo mantra... não sei até que ponto isso será bom ou mau sinal xD

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