Chá.

quinta-feira, 6 de março de 2014


O vapor do chá embacia-me os óculos enquanto a colher chocalha de encontro à porcelana da chávena.
Não consigo evitar o sorriso enquanto as tuas palavras ecoam pela minha cabeça.
"Três colheres? Pões demasiado açúcar no chá."
"Já só ponho uma, chato" - Respondo-te meio divertido, antes de me aperceber que estou sozinho no quarto.

 É estranho, porque já não me lembro bem da tua cara. ou da tua voz. tenho pequenos episódios de ti, uma estranha forma de epilepsia amorosa em que me vêm em "flashes" as tuas mãos a agarrarem as minhas no cinema, aqueles aguaceiros repentinos de Dezembro em que me davas maior parte do guarda chuva e ficavas encharcado e a tremer, mas te fazias de forte, ou os abraços que me davas todas as manhãs na estação de comboios, com cheiro a champô e perfume.

Mas partiste, e ao partires partiste-me.

A tua imagem dissolve-se, tão depressa como veio, tal como o açúcar no chá, deixando-me um sabor amargo na boca.

Continuo a mexer o chá, já frio, que perdi a vontade de beber.
O único barulho em toda a casa, um solitário chocalhar de metal contra porcelana.
Talvez amanhã volte às três colheres de açúcar.
Só para te irritar.

5 comentários:

Vá, a comentar enquanto ainda não cobro nada.
Respondo sempre e coiso.
(sou ótimo a motivar as pessoas hein?)